quinta-feira, 31 de julho de 2014

O restaurante chinês



As paredes do recinto haviam sido pintadas de várias cores, mas nenhuma tinha sido tão aceita quanto o amarelo. A força do amarelo carregava uma vivacidade pouco vista em outras cores, mesmo na expansão intempestiva do vermelho, que era frequentemente considerada descontrole, sendo assim incapaz de atrair os ocupantes do ambiente com suas mais variadas ramificações. 
Apesar da presença inigualável do amarelo, as pessoas que ocupavam o centro do ambiente não pareciam se dar conta de todo o seu magnetismo, e exalavam sua própria força, que era contraposta à abstração colorida do amarelo pela profundidade dos olhares e a serenidade dos sorrisos. 
Eram duas pessoas, dois corpos e duas experiências, entretanto a ligação era tão profunda que ultrapassava qualquer limitação que pudesse habitar vagamente o mundo físico. Ia além também de limitações mentais ou mesmo aspirações filosóficas, posicionando-se no reino cardíaco do sentimento, muito além de qualquer análise qualitativa que tentasse reduzir o subjetivo a análises tabeladas de grupos controle. 
A relação entre os dois existia fora do espaço, pois não era determinada pelo ambiente, e se colocava fora do tempo por não ser passível de análise cronológica. Não era possível dizer “Eles se conhecem há 24 minutos”, ou “Eles são amigos há 3 anos”, pois a associação não era baseada no conceito de temporalidade nem era afetada por suas inevitáveis transformações. Existia apesar dela. Toda particularizada. 
Porém, a especificidade da relação não a fazia única nem incapaz de ser compreendida. Apenas impossível de ser representada com verossimilhança. Afinal, uma representação gráfica pressupõe o espaço, suas dimensões, proporções e perspectiva, e o tempo, congelado na secura da tinta, na impassibilidade do tecido da tela e na limitação da moldura. 
O amor deles existia em outra esfera. 

*Escrito por Fernanda Marques Granato.
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