sábado, 22 de junho de 2013

Idiotices do João [44]


Foram só 10 dez meses, mas até que foram legais. Aprendi um tanto, conheci umas pessoas bacanas. Etc. Está sem controle. De repente, levantou-se para ir até a janela. Nem pensou em se jogar, pensou em voar. Estava ansioso demais. Sempre, sempre, sempre. Aquela menina desmiolada mudou-se para o norte, vai se casar. Ela não é desmiolada de verdade, mas finge ser. Conseguiu um marido europeu. Inveja da felicidade alheia, mesmo que seja uma falsa alegria propagandeada nas redes sociais. Ontem, foi correr, conversou com os coleguinhas, disse que sentia afinidade por estes. Era mentira, embora fosse verdade. Nenhum daqueles tinham a ver com ele, nenhum. Vai sair do trabalho para ir até um outro qualquer, semelhante, ou talvez não, caiu ali pelas circunstâncias, você passa metade do seu dia lá, tem de acreditar, tem de fazer sentido. Não faz. O verdadeiro ofício dele era outro. Porém, quando se sentou para fazê-lo, começou implodir por dentro. Se tivesse uma faca à mão, talvez se rasgasse para conter a implosão. Ansiedade. Deseja desesperadamente estar já no topo do universo, mas não consegue ter paciência para seguir os passos mais básicos até alcançar o objetivo. Racionalmente, sabe que se seguir um degrau por vez, chegará até onde pretende estar, mas emocionalmente luta contra a sabotagem. Agora, está criticando a si próprio por parece básico e frágil e por soar lamentoso e estúpido. Criticar a si próprio sempre, antes que seja criticado pelos demais. Está fazendo algo, mas não tem paciência de deixar as coisas acontecerem. Sente-se acuado por si próprio. Sente-se solitário mas é orgulhoso demais para admitir até para si mesmo. Deseja ser notado, deseja ser aceito, seja ser extraordinário, deseja ser amado, deseja ser cultuado. Deseja desesperadamente estar acima de todas essas necessidades, para não sofrer mais.
- Nem tudo é sobre você.
- Estamos trabalhando nisso.
Confiança vazia.
Vamos nos lamentar um pouco mais. Vamos fingir que nada disso é importante.
Enquanto isso, finge que se importa com o conflito de ideologias e com a movimentação frenética de pessoas nas ruas. Sente-se paranoico com a possibilidade de manipulação. Teorias das conspiração. Lunático. Lembra-se sempre da doutora escritora que escrevia com o coração, diziam, escrevia de uma forma enigmática, porém simples, dizem. Ela é cultuada e adorada, você não. Você é simplório e escreve bobagens. Você jamais estará acima dessas necessidades banais que tanto repudia e que tanto deseja.
E aí João olhou para a janela. E pensou profundamente na possibilidade. 

E aí lembrou que não adiantaria nada.

**As opiniões expressas nesse post são de total responsabilidade do seu autor.**

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